A Fundação Memorial da América Latina e o Instituto Latino-Americano de
Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (ILADH) abriram o seminário
internacional “Migração e Tráfico de Pessoas na América Latina”,
com a participação, na mesa de abertura, do Cardeal Arcebispo Metropolitano de
São Paulo, Dom Odilo Scherer, do Procurador Geral do Ministério Público do
Estado de São Paulo, Márcio Elias Rosa, do Presidente da Fundação Memorial da
América Latina, João Batista de Andrade, da diretora do Movimento Contra o
Tráfico de Pessoas, Débora Aranha, e do presidente do ILADH, Ricardo Yamasaki.
A mestre de cerimônia foi a drag queen Renata Perón,
montada em um modelinho preto comportado. Migrante de Juazeiro, BA, artista
polivalente, elogiada intérprete do compositor Noel Rosa, o que poucas pessoas
sabem é que ela tem uma destacada militância em defesa de minorias. Convidá-la
a abrir o evento foi um gesto dos organizadores contra o preconceito e a
discriminação.
Ao dar as boas vindas aos presentes, o presidente do Memorial, João
Batista de Andrade, lembrou que ele também é um migrante, pois veio do interior
de Minas. “Sei a dificuldade que é mudar de paisagem, viver longe dos pais, dos
familiares, dos amigos, dos conhecidos. A sensação é que nunca se vai conseguir
vencer as barreiras”. João Batista de Andrade contou que, em seu trabalho, essa
questão da migração sempre esteve presente, no cinema e na televisão. O
premiado “O homem que virou suco”, por exemplo, conta a história de um poeta de
cordel que insiste em não se deixar esmagar pela engrenagem de São Paulo, cidade
para onde milhões de nordestinos migraram. Por fim, enfatizou que a defesa dos
direitos humanos na América Latina é o sonho da sua geração, que vem dos anos
50.
Ricardo Yamasaki, presidente do ILADH, confessou ser “triste ter que
discutir esse tema, mas é bom que as pessoas saibam que o tráfico de pessoas
realmente acontece, não é lenda urbana, como alguns dizem”. Segundo ele, grande parte da
população não tem a percepção da grandiosidade do problema, ignorância que este
seminário vai ajudar a diminuir.
Márcio Elias Rosa, Procurador Geral do Ministério Público de São Paulo,
reafirmou o papel do Ministério Público em defesa das pessoas vulneráveis.
“Especialmente a partir da Constituição de 88, o MP está a postos para defender
os assim chamados ´interesses indisponíveis´ ou sociais”, contou. O procurador
incentivou as pessoas a não se satisfazerem com um seminário como esse, mas na
vida cotidiana se acostumarem a procurar seus direitos ou apoiar quem precisa,
como os estrangeiros.
Por último, falou Dom Odilo Scherer, que caracterizou o encontro como
sendo de grande importância e atualidade, informando em primeira mão inclusive
o tema da Campanha da Solidariedade de 2014: o tráfico de pessoas e a
exploração sexual. Ele contou que o Vaticano também acompanha essa questão com
muito interesse, por meio do Pontifício Conselho para as Migrações. No Brasil
há um serviço da Conferência Episcopal que estuda esse problema. No Estado de
São Paulo, especificamente, existe a Congregação de São Carlos, surgida
originalmente para apoiar os imigrantes italianos e depois aberta para todas as
nacionalidades. “Hoje esse problema é muito grave porque está relacionado ao
poder econômico. O tráfico de pessoas para exploração sexual é o terceiro em
importância, depois do tráfico de armas e de drogas”, contou. Segundo Dom Odilo
Scherer, muitas vezes os traficantes de pessoas se utilizam da própria rede de
apoio formada em torno do imigrante para, ainda em seu país de origem,
convencê-lo a imigrar. E preciso tomar cuidado, adverte.
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