Assembleia de mulheres inicia o FSM de Tunis
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Antes mesmo da tradicional marcha que costuma
abrir o Fórum Social Mundial, as mulheres lotaram o auditório da
Faculdade de Direito em luta por seus direitos.
Palavras de ordem muito fortes
contra o fundamentalismo islâmico foram cantadas na assembleia de
mulheres que ocorreu esta manhã na Faculdade de Direito da Universidade
de Tunis, e que teve como principal tônica a defesa dos seus direitos,
ameaçados pelas influência da religião sobre o estado na Tunísia. “Vamos, vamos, vamos morrer... mas antes vamos extirpar os islamistas de nossa terra”, gritavam as defensoras do Estado laico.
Não por acaso centenas e centenas de mulheres – e muitos homens –
fizeram a primeira grande manifestação neste FSM que começa, antes mesmo
da marcha de abertura. Para Shams Abdi, uma jovem militante tunisiana
da Marcha Mundial de Mulheres, “este FSM em Tunis tem como símbolo a
luta das mulheres, ainda que não seja oficial, os movimentos mais ativos
em relação ao fórum são os feministas”. Além do que, segue ela, “nos
movimentos árabes a questão da mulher é mais importante do que em outros
lugares. Antes, com a ditadura, não tínhamos liberdade de imprensa e de
expressão, agora podemos falar e ver o que se passa em Tunis”.
As mulheres daqui falam com muito orgulho da luta que vem levando.
“Como a revolução começou em Tunis”, diz Shams, “a revolução das
mulheres tem que sair de Tunis também. A mulher tunisiana não é uma
mercadoria, mercadoria é a vice-presidente da Assembleia Constituinte;
assim como ela, temos outras mulheres que são contra os direitos das
mulheres”. Para Hiba Yahyaoui, outra tunesina, estudante de letras,
“este Fórum encorajará as mulheres a continuar a defender seus direitos,
porque a mulher tunesina é forte, tanto quanto os tunesinos”.
Perguntei-lhe porque havia tantos homens na assembleia de mulheres. “Em
Tunis há muitas associações que encorajam a mulher tunesina a continuar
sua luta, como nos disse Chukri Bel Aid”. Ela se referia ao líder de
oposição, assassinado recentemente,em 6 de fevereiro.
Solidariedade internacional
A importância da solidariedade dos outros povos com a revolução da
Tunisia, segundo nos disse Ahlem Belhard, presidenta da Associação
Tunisiana de Mulheres Democratas, e condutora daassembleia. “Nós
resistimos, nós lutamos com muitas dificuldades, este é um momento muito
importante, pois é preciso impedir a contra-revolução. É importante ver
todos os lutadores dos países juntos, pois todas as pessoas que estão
no Fórum estão tentando mudar o mundo e podemos nos ajudar nessa
mudança”. A lider feminista também destaca a importância histórica da
revolução tunisiana, pois “estimulamos outras revoluções, não é um
fenômeno nacional, os países da região tem os mesmos problemas, sua
origem é a mesma. A política e a economia não são uma fatalidade, são
uma escolha”.
Ahlem Belhard
Analba Brazão, da Articulação de Mulheres Brasileiras, acha
importante “visualizarmos que o patriarcado está presente em todos os
países, embora cada povo tenha suas reivindicações locais”. A feminista
brasileira lembra que o mundo árabe não é algo homogêneo e na Tunísia a
constituição coloca a religião como algo imutável. Outro fato lembrado
por Analba é que elas consideram como primeira fagulha da revolução os
protestos na bacia mineira neste país, puxados pelas mulheres, e que
nunca aparecem quando se conta a história. A única brasileira a falar na
assembleia foi uma representante do Movimento de Mulheres Camponesas,
que destacou a luta pela terra e pela segurança alimentar. "Somos nós,
as mulheres, que garantimos a maior parte dos alimentos para nossa
população, produzidos no enfrentamento ao agronegócio, que destrói a
terra e traz todo tipo de violência contra as mulheres".
Mexicanas lutam contra o feminicídio
Além da Tunísia, falaram representantes do Senegal, da França, da
Espanha, da Palestina, para uma plenária que tinha ainda diversos grupos
de mulheres atualmente em luta, como as do Sahara ocidental e do Mali. A
criação de uma rede de apoio as mulheres da Tunísia e a defesa dos seus
direitos, ameaçados pelos partido islamita no poder foi proposta a
todas as mulheres do mundo.
Mulheres do Mali
Mulheres saharauis
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